Quando eu era criança meu avô morava numa casa que, se perdia no luxo, ganhava no quintal, era "lindo", visto pelos olhos de uma crinça, um quintal que tem 2 pés de carambola, 2 mangueiras, 1 pé de cajá, 1 de cacau, 1 de acerola, "lots of" bananeiras, 1 coqueiro e sobrava espaço pra soltar pipa e andar de bicicleta como se fosse um rally, era o paraíso na Terra! Obviamente um quintal com tantas árvores tinha muita terra (dãr) e todos os "bônus" dessa terra, entre eles, claro, não podiam faltar formigas vermelhas e como, sortudo que sou, não sosseguei até cari de bunda no tal formigueiro. Eu devia ter uns 4 ou 5 anos, portanto não posso dar muitos detalhes, mas eu lembro do orgulho e da sensação de segurança que meu avô me passou quando veio, com uma garrafa de álcool na mão, e tocou fogo no formigueiro, enquanto falava pras formigas coisas do tipo: "pra vocês aprenderem a num mexer mais com meu neto" etc etc.. e depois me levando pra uma distância segura ( e aí eu já não lembro se foi realmente ele) passou álcool nas picadas de formiga vermelha na minha perna.
Outra situação que eu sempre lembro é bem mais recente, eu já era um boêmio, e já bebera umas cervejas com Seu Niniu. Enfim, ele dizia que Brahma fazia mau pra barriga dele (se é que vocês me entendem) e que prefiria beber antarctica, ou seja, a gente comprava Brahma pra todo mundo e umas 2 antarticas pra ele, e quando acabavam as dita cujas, vocês pensam que a gente mandava buscar mais? Bobinhos... Ele caía dentro da Brahma mesmo ou o que tivesse, agora, se ele sabia ou não eu não posso dizer ao certo. Fato é, e os mais próximos sabem, o sistema digestivo dele já não estava grande coisa, ou seja, dependendo do dia, qualquer cerveja faria mau a ele. Mas era muito engraçado ouvir a mesma ladainha de sempre toda vez que a agente ia tomar cerveja aqui em casa...
Fato também é que é assustador pensar em nunca mais ouvir ele dizendo: "ÔÔÔ pardal!!!" em cumprimento aos netos (sim, todos os netos e/ou crianças pequenas eram chamados assim por ele), e nunca mais achar graça nele dormindo sentado depois do almoço, não importando o lugar que estivesse, ou ainda quando ele contava os "causos" das épocas de capoeirista e tentava imitar os movimentos de um "rabo-de-arraia", ou mesmo quando contava outros "causos" e se embaralhava tanto nas datas que se tornava impossível determinar quando foi o ocorrido e mesmo assim quando chegava no final ele chorava de dar risada pra logo em seguida coeçar com aquela tosse de trovão, típica dos fumantes de longa data. Seria irônico se não fosse tão triste, uma pessoa fumar durante 60 anos e não ter nenhuma marquinha nos pulmões, em compensação ter o resto do organismo lutando contra ela durante tanto tempo...
Me assusta a ideia de só olhá-lo em fotos daqui pra frente, mas tenho certeza que o Niniu que eu vou relembrar não é o que eu vou ver hoje, e sim aquele que eu descrevi nesse texto, o Niniu que, apesar de toda a luta de uma vida, pareceu não desistir nunca e se "a morte chega sempre pontualmente na hora incerta" como disse Mario Quintana, eu posso dizer que esse baixinho de 1,50 m deu muitas surras nela antes de se entregar...
Vô, vou sentir saudades!
04/12/09
3 comentários:
É extremamente chato dar os sentimentos quando, para nós, é tão estranho ter que falar sobre isso.
Temos uma dor gêmea e isso realmente é muito triste.
Espero que, assim como eu, suas lembranças sejam as melhores de seu vô... Mas que diferente de mim, você consiga aceitar que ele está melhor onde ele estiver.
Nos colocamos à disposição e desejamos força nesse momento tão difícil.
Sabemos bem como é a dor recente de uma perda e como é a dificuldade de se reerguer dela, mas tendo boas lembranças e se apoiando no amor familiar e nos amigos, é mais fácil juntar os cacos.
Que Deus vos abençoe.
E miminhoo esse pardal deixou saudades heim nossos coraçoes...
Confesso que achei graça enquanto lia cada uma das linhas aqui descritas, pois me deu a sensação de estar tão perto do seu avo, quanto você. E pude ver o quanto ele foi divertido, mesmo que fazendo o que não devia.
Sei que o momento é difícil, mas se você se lembrar dele sempre da forma como o descreveu aqui hoje, voce sempre trará sorrisos contigo. O que de fato é o que seu avô desejaria e deseja.
Lembre-se sempre das coisas boas e engraçadas, lembre-se das história, das tosses (achei muita graça), lembre dpo que de melhor ele pô de te oferecer, lembre-se de seus ensinamentos.
É inevitável não sentir tristeza nesse momento, eu sei, mas não sinta por muito tempo. Faça essa tristeza um dia, se transformar em saudade regada de ótimas recordações.
Sinto muito pela tua perda, eu sei como é dificil.
Já pensei muitas vezes em homenagear o meu vô tambem, mas às vezes sinto que minha palavras não serão suficientes, por que eles são os caras da nossa vida. Nossos maiores exemplos.
Pra qualquer coisa que precisar, estarei aqui, como a amiga virtual que mesmo não tendo nem noção de onde você por vezes está, e mesmo sem te conhecer de verdade, quer o teu bem.
Força e paz!
Que seu avô e o meu vô estejam jogando altas conversas fora agora, com as suas tosses, seu "tics", suas gírias e tudo o que há de melhor neles!
Um beijo, fica com Deus!
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